Oi gente! Tudo bem?
Hoje é dia do escritor nacional e para comemorar essa data planejei um post mega especial! Na verdade, a partir de hoje e dos próximos três sábados vocês vão conferir um capítulo de um conto que escrevi um tempo atrás e quero dividir com vocês! A história é sobre uma adolescente que descobriu o amor... A mãe morreu no parto, ela tem uma verdadeira fada madrinha e depois disso ainda surge um irmão fora do casamento do pai, bem antes dela nascer... Chega de enrolação, leiam com seus próprios olhos e espero que gostem. ;)
Eu sempre pensei que não conseguiria viver um romance como o da minha
mãe. Ela e meu pai viveram exatos 365 dias de pura paixão e eu acho que todo
mundo merece conhecer essa história. Minha mãe era gerente de um teatro que
tinha aqui em Belo Horizonte e sempre que podia, dava um pulinho para ver umas
apresentações. Principalmente os musicais. Em um desses pulinhos, ela se
esbarrou no meu pai, numa apresentação de Charles Chaplin, onde acabaram
preferindo uma coisa mais... Romântica, ao invés dos movimentos dos atores.
E esse pulinho, deu em mim, acho que dá para imaginar né? Pode ter sido
muito rápido como os relacionamentos de hoje, mas o namoro deles teve amor de
verdade. Com direito a serenata e tudo. Meu pai é músico e naquela época tinha
a banda Maré Baixa, que até hoje escutamos no rádio e canto igual uma louca
todas as músicas, tentando viver a época antes de mim... Mas costumo pedir que
as apresentações sejam ao vivo mesmo. Sempre que pode, o Sr. Cadu pega aquele
antigo violão e canta como se estivesse no meio de uma multidão outra vez, só
que a única multidão que ele tem, sou eu.
Depois desse romance todo, minha mãe descobriu que estava grávida,
claro, e meus avós não aceitaram. Ela foi morar com meu pai que acabou tendo que
arrumar mais 2 empregos. Quando minha mãe estava com 7 meses, teve uma
hemorragia e a vizinha do pequeno apartamento deles a socorreu e eu nasci. Pode
ter sido o momento mais feliz da vida do meu pai, melhor que qualquer música,
mas não. Minha mãe morreu naquele dia. No parto. E eu não pude conhecer a
mulher maravilhosa que ela foi.
Por essa razão me chamo Clarice, o nome da mulher que meu músico
preferido amou. E posso dizer que ainda ama, mesmo tendo arranjado outra. Ele
disse que teve essa namorada antes da mamãe e que ela estava grávida, mas ele
nem acreditou porque nessa época foi o auge da banda. Pensou que ela só estava
atrás do dinheiro dele. Só que quando eu estava com 4 meses, ele resolveu
procurá-la. O meu irmão estava com um ano e meu pai ganhou a guarda dele fácil.
A mulher era uma prostituta e não poderia dar educação para o Bernardo.
Pode parecer loucura, meu pai com dois filhos pequenos para criar e sozinho.
Mas ele aceitou o desafio, com a ajuda da minha madrinha: a vizinha que levou
minha mãe ao hospital. Graças a ela, eu não estou morta junto com a Dona
Clarice. Ingrid é a minha "mãe" do coração que ajudou meu pai com
tudo e até hoje, com meus 16 anos, ela ainda me ajuda. O irmão que eu ganhei?
Se tornou meu melhor amigo e é um ótimo desenhista.
Ele é diferente do meu pai, mas eles possuem a mesma cabeça dura e cheia
de amor. Mesmo ele não ter aparecido com uma namorada, nunquinha, eu sei que
ele vai ser romântico como nosso pai. Sem qualquer música, só do jeito dele. Acabamos
nos mudando para um APÊ um pouco maior, perto da nossa escola e de um instituto
de arte que meu pai é diretor. Tive uma vida muito boa e não reclamo de nada.
Voltando ao tema amor... Nunca acreditei que iria me apaixonar um dia.
Eu era a desalmada do trio de amigas. E não sou tão atraente assim. Cabelos? Castanhos.
Olhos? Azuis escuros da cor do céu quando vai chover. Quem iria olhar para mim?
Tirei meu BV numa barraca do beijo na festa junina e desde então, nunca mais.
Nenhum contato com nenhum garoto.
Com 16 anos isso parece doença, mas não é. Bom, isso faz uns 4 anos. E
como o impossível se torna possível, o garoto mais sexy da minha turma me chama
pra sair. Essa palavra que nem estava no meu dicionário, agora se encaixa
perfeitamente. Namorado. O Eric é o capitão do time de futebol desde o nono
ano. Eu sabia que ele dava umas olhadinhas pra mim, mas nunca pensei que seria
com essa malícia toda. Ele chegou em mim do modo mais improvável: a dupla dele
de química sumiu e a minha tinha faltado. O professor nos colocou juntos e num
experimento que não parava de subir espuma e mais espuma ele me perguntou:
"Quer sair hoje à noite? Vou dar uma festa na minha casa e gostaria que você fosse..."
"Quer sair hoje à noite? Vou dar uma festa na minha casa e gostaria que você fosse..."
What??? Como assim ele me chama pra sair no meio do nada, sem nem termos
conversado antes, e aquela coisa quase explodindo diante dos nossos olhos?
Como não sou igual essas meninas bobas, só respondi:
"Adoraria dar a graça da minha presença."
"Adoraria dar a graça da minha presença."
Bom, claro que não foi isso, não é?
"Ahãm."
Um sonzinho de afirmação? É, realmente Clari, você não tem experiência
nenhuma. Daí em diante, sem comentários. A gente se beijou, ele me chamou pra
sair outras vezes e enfim me pediu em namoro. Comecei a ver os treinos dele e
ele a ver algumas das minhas apresentações. Estou seguindo a carreira do meu
pai, mas no piano. Diferente, não?
Isso foi no ano passado. Eu, com quinze anos, não imaginava que meu
mundo viraria de ponta cabeça. E olha que meu pai sabia que um dia me perderia
pra outro homem. O Bê? Nem se manifestou. Fica com aquela cara fechada de
sempre, combinados com os olhos verdes tristes.
"Você tem uma nova mensagem."
Diz a mulherzinha do toque do meu celular.
"Gatinha, tem um jogo hoje. Quer ver seu príncipe marcar mil gols
pra vc? Clube do Cruzeiro. Às 19h.”
"Pai!" Grito e não tem ninguém em casa. Cadê todo mundo?
Domingo à noite. Dezembro. Eu com meu vestidinho verão e várias partituras para
organizar. Ah, meu amor primeiro, né? Não. Tenho que arrumar isso, se não meu
pai não deixa eu sair nunca mais por 200 anos, quem sabe.
Arrumo toda a bagunça que deixei na sala da noite de ontem. A Nicole e
eu estávamos ensaiando mais uma vez a nossa apresentação de amanhã na escola.
Fim de ano é loucura e colação é ainda pior... Ela é minha melhor amiga desde
os 10 anos e é como uma irmã pra mim. Ela sonha em ser bailarina e eu não canso
de apoia-la. Ela vai conseguir como eu também vou. Ser pianista profissional,
se eu me dedicar mais, ou lecionar. As duas opções são muito boas e tenho mais
um ano para decidir o que eu quero. Bato na porta do quarto do meu irmão. Nunca
chamo ele de meio-irmão. Para mim, ou é irmão ou não é. Ele deve estar
desenhando mais e mais. Sei que ele consegue uma federal, inclusive aqui, na
UFMG. Ele passa facinho, é muito inteligente.
Eu até que sou, mas nada comparado ao “Einstein” que existe dentro dele.
Nós sempre vamos juntos para escola, desde os 11 anos, e as pessoas sempre nos
chamava de namorados, tanto por chegar juntos na escola e por sermos da mesma
turma. Ainda bem que o Eric sabia mesmo que somos irmãos. Até a Nicole, um dia
disse: "Olha o meu casalzinho preferido chegando." E ela não estava
se referindo a um simples casal de irmãos.
Eu ignorava, porque não dá pra contrariar as pessoas e discutir, mas o
Bê ficava todo vermelho. Ele é branquinho, então percebe-se com facilidade a
mudança de cor no rosto dele. Vergonha de mim? Mentira descabida? Ou outra
coisa? Não sei...
"Bê, o papai foi aonde? Ele não atende o celular." Eu disse do lado de fora, ele ainda não tinha aberto a porta e nem iria abrir e deixar eu entrar. Quando eu tinha 5 anos, estava numa fase curiosa e queria entrar em qualquer canto. Cheguei dentro do quarto dele, que me xingou e doeu até na alma. Fiquei sem falar com ele por um bom tempo. Isso foi em maio, no mês do meu aniversário e só no Natal voltei a falar com ele naturalmente. E olha que eu só tinha 5 anos! E nem lembro nada do que vi naquele dia.
"Bê, o papai foi aonde? Ele não atende o celular." Eu disse do lado de fora, ele ainda não tinha aberto a porta e nem iria abrir e deixar eu entrar. Quando eu tinha 5 anos, estava numa fase curiosa e queria entrar em qualquer canto. Cheguei dentro do quarto dele, que me xingou e doeu até na alma. Fiquei sem falar com ele por um bom tempo. Isso foi em maio, no mês do meu aniversário e só no Natal voltei a falar com ele naturalmente. E olha que eu só tinha 5 anos! E nem lembro nada do que vi naquele dia.
"Clari, ele disse que foi no supermercado e não demora. Dormiu
muito depois do almoço eim?" Ele respondeu, com a voz abafada pela parede,
porta e tudo o mais.
"Estava cansada. Vou no clube e volto mais tarde. Vou ver um jogo
do Eric. Avisa o papai. Eu não demoro e ele me trás. Beijo." Eu disse
e esperei um pouquinho. Sem resposta. Acho que ele escutou né?
Sempre que eu falo do Eric ele se cala. É quase que automático. Como se
fosse um membro involuntário do corpo dele. Desço pelo elevador e o táxi que
chamei já está na porta. 18:45. E o sol de rachar desse horário de verão louco.
Ainda bem que os táxis aqui na Savassi não demoram, não queria ficar na rua e
no sol. O trajeto é rápido. Mas minha cabeça fica tonta assim que eu entro no
veículo. Deve estar ansiosa pra amanhã.
Tocar o Lago dos Cisnes e ainda ter uma dançarina. É muito pra mim.
Antes de terminar meu pensamento, chego ao clube, pago o taxista e procuro Nic.
Ela me vê na entrada e logo acena para eu ir me sentar ao seu lado. Antes de
chegar na ala “L” onde ela está sentada, um braço me puxa pra trás para um
beijo longo. Eric. Mas ele não devia estar no campo? Nada importa. Quando estou
nos braços dele o mundo pode girar e desmoronar o que for. Não vou me abalar.
"Eu te amo." Ele diz e sai correndo em disparada pelo vestiário.
Cabelo liso, corpo perfeito. O que mais eu poderia desejar? Meu namorado me
ama! "Eu também te amo, meu amor. Boa sorte!" Eu consigo sibilar
quando ele começa a correr de costas e a mandar beijinhos pra mim. Me viro e
volto a caminhar em direção a minha amiga.
"Que cena de cinema em Clari? Já pensou em mudar de área? Atuação parece um bom ramo."
"Que cena de cinema em Clari? Já pensou em mudar de área? Atuação parece um bom ramo."
"Oi pra você também Nic. Ansiosa pra amanhã?"
“Nem tanto. Sei que vou brilhar. Quer dizer... Nós vamos brilhar!"
Não sei identificar o tom de ironia ou soberba em sua voz. A Nicole de uns
tempos pra cá, passou a me olhar de um jeito estranho. E percebi que isso foi
logo depois de eu começar a namorar. Ou seja, já tem um tempinho. Na verdade, a
Nic mudou com a partida da Jennifer. As duas brigaram feio e a família da
Jennifer acabou se mudando pra João Pessoa, há mais de 1000 km de distância
daqui. Ela mudaria de qualquer jeito, mas a briga delas, que até hoje me parece
estranha, nos afastou. A Jenn parou de conversar até comigo e olha que eu não
tive nada a ver com isso. Não quis atrapalhar as coisas ainda mais e por isso
não liguei até hoje. Isso foi há mais de dois anos. Inclusive, a Nic ameaçou se
afastar de mim se eu tentasse qualquer contato com a Jennifer. Para não perder
mais uma amiga eu fiquei na minha.
O engraçado que essa foi a mesma época que a Jennifer terminou com o
namorado e ele logo apareceu de braços dados com a Nic. Estranho. Os dois eram
tão apaixonados e suportariam um namoro a distância. Dava qualquer coisa pra
saber o que aconteceu, mas também não metia nenhum dedinho meu pra desenrolar
essa história.
Bola rolando. Até que enfim. Meu camisa sete não erra um passe e sei que
logo vai fazer um gol pra mim. Não gosto tanto de futebol, mas finjo prestar
atenção. Não quero conversar com a Nicole agora, porque se ela começar eu vou
falar e não vou parar. Eric faz um gol pra mim só no segundo tempo. Ele corre
até a grade pra me dar um beijo e eu saio correndo do meu lugar para recebê-lo.
Mesmo sendo tão rapidinho, ele sabe o que fazer para prender uma garota. Eu
acordo do meu pequeno devaneio e volto a me sentar. A cara que a Nic faz é de
desgosto. Eu não sou ingênua para perceber que ela a qualquer momento de
deslize da minha parte, vai ficar com o meu namorado. Será que foi isso? Ela
seduziu o Felipe, o namorado da Jenn? Ex das duas? Porque logo depois também, a
Nicole largou ele...
Eu confio no meu taco. O Eric já deu a entender várias vezes que nunca
quis e nem nunca vai querer ela. É impressionante o nível de inveja das
pessoas. Ainda bem que Deus me agraciou e não sinto um ponto de inveja. Não
cobiço nada de ninguém e nem pretendo fazer essa parte minha, obscura, crescer.
Nenhum comentário:
Postar um comentário