quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Let it Snow - A Magia do Natal

Fazer faculdade de serviço social nunca foi fácil, mas sempre foi um sonho. Sou adotada, então não foi surpresa nenhuma para os meus pais e minha irmã. A Milena ainda está no colégio e de longe quer se aventurar na vida de universitária. Ela também veio do mesmo orfanato que eu estava e é nele que de vez em quando visito as crianças e faço a alegria daquela casa com as Irmãs. Elas me agradecem pelo trabalho voluntário, que pode até vir a ser meu estágio. Algum dia.
Irmã Felícia tanto pediu que até aceitei cuidar das crianças junto com ela, pois as outras estariam junto ao bispo. O que eu traduzi como “gandaia”, mas acho que as freiras merecem descanso, ir visitar as famílias que deixaram para trás quando escolheram servir não só a Deus, mas às crianças também. Eu não hesitei em dizer sim, e logo avisei em casa. Minha mãe e minha irmã nem se manifestaram, mas meu pai disse que a ceia perderia um pouco o sentido sem a minha presença.
Fui adotada com dez anos e nunca soube a minha história do nascimento, pois a minha verdadeira começou com a adoção e depois com a presença de uma irmã. Minha mãe sempre quis engravidar, mas meu pai é estéril e então a solução foi a adoção. Não seriam só eles a deixar pra trás, pela primeira vez na noite de Natal. Lucas, meu namorado há três anos nem quis ir comigo. Eu pensei que ele iria, porque a gente sempre passa a noite juntos. Cada um na sua casa e depois ele vem me buscar, fica um pouco lá em casa e nós vamos para a casa dele. O irmão tem várias amigas, então acho que meu estudante de engenharia nem vai sentir a minha falta.
“Carol, tudo bem você pode ir ficar com as crianças, mas eu não vou, já te disse.” Ele respondeu, assim que disquei seu número antes de pegar o carro e ir para o Orfanato Irmã Teresa. “Amor, eu sei, mas o que custa? Só uma passadinha?” Tentei pela milésima vez, convencê-lo. “Eu já te disse, se você prefere essas criancinhas, pode ir. Eu tenho mais o que fazer.”
“Tudo bem.” Eu respondi desanimada. “Tenha um ótimo Natal.” “Você também.” Foi o que recebi em resposta.
Peguei minha pequena malinha, e uma sacola cheia de presentes para as meninas e os meninos. O orfanato só abriga crianças de sete aos quinze anos, então livros vão servir como uma luva. Eu fico imaginando a cabeça de um adolescente que só tem outras crianças como companhia. Os pais abandonaram e nem pensaram em como ele cresceria, como seria bonito, inteligente. Em como encheria a casa de alegria. Eu tive sorte de encontrar pais aos 10 anos, mas e eles?
Esse pensamento se afasta quando escuto o toque de mensagens do meu celular. Dois toques. A primeira mensagem é da Ana, minha melhor amiga que resolveu fazer Música. “Carolzinha! Mais tarde te ligo. Pena que você não pode ver o musical que organizei. Vai ficar lindo! Peço alguém pra filmar e te mostro depois. Boa sorte com os pirralhos. Beijinhos da ANoel”
Meu coração se entristece por não ver o musical de Natal que a Ana produziu junto com uns colegas. Mas eu sei que ela vai brilhar. Abro a segunda mensagem. “Carolina, tudo pronto para essa noite? Você poderia trazer massas de cupcake? Aprendi com o Edu Guedes semana passada e queria fazer para os meus meninos e claro com sua ajuda. Não demore, sim? Beijo. Irmã Felícia.” Cupcakes! Hummm. Claro que eu vou levar, essa ideia vai ficar maravilhosa na barriga.
Junto minhas coisas, pego umas massas de cupcake da Milena, ela nem vai perceber que eu roubei, já que a essa hora, oito da noite, não vou achar nada aberto. Véspera de Natal? Só doido com loja aberta. Nem doido eu acho. Meus pais me dão uma caixa média de presente e pedem para eu abrir só meia-noite, na sacada do prédio do orfanato. A Milena me dá um beijo de Feliz Natal e retribuo com vários outros. Inclusive algumas cosquinhas. Essa sim é a família que vou agradecer o menino Jesus por dá-la a mim.
O trajeto é tranquilo, peguei o carro do papai e as crianças estão todas dormindo. Com exceção de nenhuma. Irmã Felícia me conta que todo ano é assim, porque elas ficam a madrugada toda acordadas. Me junto a ela na cozinha para preparar a nossa sobremesa: Cupcakes! Vou adiantando a ceia e arrumo a mesa da forma mais linda possível. Nunca imaginei uma mesa tão grande como essa! No total: vinte e quatro lugares. Parece aquelas mesas de filmes medievais, castelos, reis e rainhas. Se bem que essa noite um rei vai nascer, então está tudo conforme o esquema.
O tempo passa tão rápido que nem percebo. Onze e meia. “Meu Deus! Já é quase hora de acordá-los!” Digo a Irmã que está sentada na mesinha da cozinha, descansando. “Não se incomode, elas acordam umas às outras e correm pra mesa. Fazemos as orações e elas vagam por aí até cansarem mais uma vez.”
“Tudo bem. Exatamente à meia-noite?” Pergunto. “Não. Nós começamos a comer à meia-noite.” Ela olha no relógio de pulso. “Em três... Dois... Um.” E escuto vários pés correndo até a sala e escolhendo seus lugares. Eu e Irmã Felícia vamos nos sentar cada uma numa ponta. Ela me chama para ver o espetáculo e fico impressionada com a felicidade estampada em seus rostos e a educação de sempre. Eu nunca tinha vindo aqui no Natal e desde os 16 ajudo sempre que posso. Dois anos depois, cá estou eu. Passando o Natal longe da família e do ex... Namorado?


“Oi, Carol.” Júlia, uma loirinha de doze anos me cumprimenta. “Oi querida. Dormiu muito eim?” Brinco um pouco com ela, que se senta do meu lado direito. “Nada. Só a rotina natalina de sempre. Você trouxe presentes? Muitos aqui ainda acreditam no Senhor Noel...” Ela sussurra. “Claro que sim. E trouxe uma coisa muito especial pra você também!” Sussurro de volta e percebo que todos já se sentaram. Tenho certeza que ela vai gostar de Alice no País das Maravilhas! Irmã reza um Pai Nosso para acalmar a todos e eu acompanho.
“Dormiram muito, eim meninos?” Ela faz cara de brava. “Hoje não tem presentes, vocês podem comer e ir pra cama!” Muitos “Ahs” e caras tristes aparecem, mas logo se desfazem. “Que isso meninos! Hoje tem pra todo mundo! Mas temos que agradecer o nosso Deus por trazer o menino Jesus, por nossa comida e o presente que todos vão ganhar!”
Irmã começa rezando uma oração belíssima que não consigo identificar. Sou católica, mas não tanto quanto minha mãe, por exemplo. Eu tendo Deus no coração, mais nada importa para mim. Mas vejo que eu devia voltar a frequentar mais. Ela termina e em uníssono os meninos rezam uma oração que não reconheço, porque eles a fizeram e decoraram! Meu Deus! Nem na minha época de orfanato nós éramos tão educados e organizados. Depois cada um faz sua oração. Pedindo e agradecendo. Pedidos de uma família até um bom emprego no futuro. Chega a minha vez e agradeço por compartilhar esse momento com eles, pelo ano de 2014 que já está acabando, e peço a Deus que ilumine minha família e meu namorado que não estão presentes comigo hoje. Peço pelas irmãs e por cada criança e adolescente que ainda não encontraram seu lugar no mundo. Que elas não vivam a procura de uma família e sim, de carinho e amor eternos que podem encontrar nas pessoas certas. Nós rezamos mais um Pai Nosso e sentamos à mesa para a ceia, quando meu celular toca. Penso que é a Ana, mas é só uma mensagem do... Lucas!
“Vá a sacada. Papai Noel chegou com um presente especial pra você.”
Penso em ignorar, mas ele nunca me mandaria uma mensagem assim, à toa. Peço a Irmã um minuto e ela entende que devo querer dar Feliz Natal aos meus pais. De repente me lembro do presente deles. A caixinha! À meia-noite! Vou até a sala, pego a caixinha e vou pra sacada. Meu desespero é tanto que quase a deixo cair lá embaixo. Mas consigo abrir e me surpreendo por seu uma... Lanterna? Que isso? Meu relógio marca um minuto para meia-noite. Ligo a lanterna e escuto um jingle bells bem familiar. Vindo do terraço. Aponto a lanterna pra cima e encontro...
“Lucas? O que você está fazendo aqui?” Me assusto e pergunto.
“Meu amor, nunca duvide do meu sentimento por você. E calma, não vou te pedir em casamento. Temos só dezoito anos. Não fique assim.” Ele avisa, vendo a minha cara de espanto. “Lembra do seu sonho? Não desista de nenhum sonho por mais que seja impossível. Eu te amo.” Ele, que estava gritando, some e fico preocupada. Mas percebo que está ventando um pouco. Tinha previsão de chuva pra hoje e não... Previsão para neve?! Vejo a neve cair do céu, mas não de tão alto. De uma máquina de onde Lucas está. Eu sempre quis que nevasse no Brasil, porque podemos viajar e vê-la em outros lugares. Porém em outro lugar, não vai fazer nenhum sentido, voltarmos pra casa e não encontrarmos esse climinha gostoso.
Eu já tinha visto a neve numa viagem pro Chile que eu fiz com a escola, saiu totalmente de graça pra mim, porque foi concurso e seria uma viagem de estudos. Fomos numa época que só nevou um pouquinho e fiquei com gosto de quero mais.
 Entro em pânico, só que um pânico gostoso e grito todo mundo. Em questão de segundos, todos estão maravilhados com a mesma visão que a minha. Em dez minutos tudo acaba, cada um me dá um abraço agradecendo pelo presente e depois de tudo isso, Lucas aparece na porta. Eu corro e dou o maior abraço nele, seguidos de vários beijos e vários “eu te amo” também.
“Como você conseguiu fazer isso?” Perguntei, ainda nos braços dele e todo mundo assistindo a cena. “Bom, é que eu não tinha nada em mente como presente de Natal pra você e lembrei do seu sonho. O resto é segredo. Carol, sério. Eu só estava sendo rude pra você não perceber nada. Eu estava fazendo uma surpresa.” Agora eu penso sério. Meu Deus! Obrigada por ter colocado esse homem na minha vida. “Eu não me importo. Eu amei minha surpresa. Que acabou virando NOSSA SURPRESA. Ah, fique sabendo que se fosse um pedido de casamento em pleno Natal eu teria aceito.” Ele me deu vários outros beijos e chamei-o para comer. No caminho, o caçula da casa, João, perguntou para o meu namorado:
“Você quem é o Papai Noel?”

“Não. Sou um amigo dele e do menininho Jesus.” Papai Noel? O Lucas nem tem barba... Abro um sorriso de felicidade, maior do mundo. “E de nós todos, João.” Completei, porque eu já dividia minha vida com ele. Agora, seria mais uma parte dela, eu sabia que aquela noite estava longe de acabar por ser Natal e que ele não me desapontaria. Nem Jesus, que acabara de nascer. Nem meu namorado.


Oi gente!!! Espero que tenham gostado. Muito obrigada por chegarem até aqui em baixo. 
Feliz Natal para cada um que me acompanha e que de alguma forma chegou até o blog.
Beijinhos! Fiquem com a trilha sonora da Carol...


2 comentários:

  1. Olá Bella, tudo bom?

    Menina que conto incrível. Continue escrevendo haha <3

    Abraços, Mr. Souza.
    http://smallscribble.blogspot.com/

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  2. Oi Bela, tudo bem?

    Que a Magia do Natal contagie e todos!!! Lindo conto, parabéns. Um feliz ano novo! Que em 2015 você escreva ainda mais

    beijos
    Kel
    www.porumaboaleitura.com.br

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