sábado, 25 de julho de 2015

[Conto original] Quando o amor aparece - Cap. 1

Oi gente! Tudo bem? 
Hoje é dia do escritor nacional e para comemorar essa data planejei um post mega especial!  Na verdade, a partir de hoje e dos próximos três sábados vocês vão conferir um capítulo de um conto que escrevi um tempo atrás e quero dividir com vocês! A história é sobre uma adolescente que descobriu o amor... A mãe morreu no parto, ela tem uma verdadeira fada madrinha e depois disso ainda surge um irmão fora do casamento do pai, bem antes dela nascer... Chega de enrolação, leiam com seus próprios olhos e espero que gostem. ;)





Capítulo 1



          Eu sempre pensei que não conseguiria viver um romance como o da minha mãe. Ela e meu pai viveram exatos 365 dias de pura paixão e eu acho que todo mundo merece conhecer essa história. Minha mãe era gerente de um teatro que tinha aqui em Belo Horizonte e sempre que podia, dava um pulinho para ver umas apresentações. Principalmente os musicais. Em um desses pulinhos, ela se esbarrou no meu pai, numa apresentação de Charles Chaplin, onde acabaram preferindo uma coisa mais... Romântica, ao invés dos movimentos dos atores.
          E esse pulinho, deu em mim, acho que dá para imaginar né? Pode ter sido muito rápido como os relacionamentos de hoje, mas o namoro deles teve amor de verdade. Com direito a serenata e tudo. Meu pai é músico e naquela época tinha a banda Maré Baixa, que até hoje escutamos no rádio e canto igual uma louca todas as músicas, tentando viver a época antes de mim... Mas costumo pedir que as apresentações sejam ao vivo mesmo. Sempre que pode, o Sr. Cadu pega aquele antigo violão e canta como se estivesse no meio de uma multidão outra vez, só que a única multidão que ele tem, sou eu.
          Depois desse romance todo, minha mãe descobriu que estava grávida, claro, e meus avós não aceitaram. Ela foi morar com meu pai que acabou tendo que arrumar mais 2 empregos. Quando minha mãe estava com 7 meses, teve uma hemorragia e a vizinha do pequeno apartamento deles a socorreu e eu nasci. Pode ter sido o momento mais feliz da vida do meu pai, melhor que qualquer música, mas não. Minha mãe morreu naquele dia. No parto. E eu não pude conhecer a mulher maravilhosa que ela foi.
          Por essa razão me chamo Clarice, o nome da mulher que meu músico preferido amou. E posso dizer que ainda ama, mesmo tendo arranjado outra. Ele disse que teve essa namorada antes da mamãe e que ela estava grávida, mas ele nem acreditou porque nessa época foi o auge da banda. Pensou que ela só estava atrás do dinheiro dele. Só que quando eu estava com 4 meses, ele resolveu procurá-la. O meu irmão estava com um ano e meu pai ganhou a guarda dele fácil.
          A mulher era uma prostituta e não poderia dar educação para o Bernardo. Pode parecer loucura, meu pai com dois filhos pequenos para criar e sozinho. Mas ele aceitou o desafio, com a ajuda da minha madrinha: a vizinha que levou minha mãe ao hospital. Graças a ela, eu não estou morta junto com a Dona Clarice. Ingrid é a minha "mãe" do coração que ajudou meu pai com tudo e até hoje, com meus 16 anos, ela ainda me ajuda. O irmão que eu ganhei? Se tornou meu melhor amigo e é um ótimo desenhista.
          Ele é diferente do meu pai, mas eles possuem a mesma cabeça dura e cheia de amor. Mesmo ele não ter aparecido com uma namorada, nunquinha, eu sei que ele vai ser romântico como nosso pai. Sem qualquer música, só do jeito dele. Acabamos nos mudando para um APÊ um pouco maior, perto da nossa escola e de um instituto de arte que meu pai é diretor. Tive uma vida muito boa e não reclamo de nada.
          Voltando ao tema amor... Nunca acreditei que iria me apaixonar um dia. Eu era a desalmada do trio de amigas. E não sou tão atraente assim. Cabelos? Castanhos. Olhos? Azuis escuros da cor do céu quando vai chover. Quem iria olhar para mim? Tirei meu BV numa barraca do beijo na festa junina e desde então, nunca mais. Nenhum contato com nenhum garoto.
          Com 16 anos isso parece doença, mas não é. Bom, isso faz uns 4 anos. E como o impossível se torna possível, o garoto mais sexy da minha turma me chama pra sair. Essa palavra que nem estava no meu dicionário, agora se encaixa perfeitamente. Namorado. O Eric é o capitão do time de futebol desde o nono ano. Eu sabia que ele dava umas olhadinhas pra mim, mas nunca pensei que seria com essa malícia toda. Ele chegou em mim do modo mais improvável: a dupla dele de química sumiu e a minha tinha faltado. O professor nos colocou juntos e num experimento que não parava de subir espuma e mais espuma ele me perguntou:
          "Quer sair hoje à noite? Vou dar uma festa na minha casa e gostaria que você fosse..."
          What??? Como assim ele me chama pra sair no meio do nada, sem nem termos conversado antes, e aquela coisa quase explodindo diante dos nossos olhos?
          Como não sou igual essas meninas bobas, só respondi:
          "Adoraria dar a graça da minha presença."
          Bom, claro que não foi isso, não é?
          "Ahãm."
          Um sonzinho de afirmação? É, realmente Clari, você não tem experiência nenhuma. Daí em diante, sem comentários. A gente se beijou, ele me chamou pra sair outras vezes e enfim me pediu em namoro. Comecei a ver os treinos dele e ele a ver algumas das minhas apresentações. Estou seguindo a carreira do meu pai, mas no piano. Diferente, não?
          Isso foi no ano passado. Eu, com quinze anos, não imaginava que meu mundo viraria de ponta cabeça. E olha que meu pai sabia que um dia me perderia pra outro homem. O Bê? Nem se manifestou. Fica com aquela cara fechada de sempre, combinados com os olhos verdes tristes.
          "Você tem uma nova mensagem."
          Diz a mulherzinha do toque do meu celular.
          "Gatinha, tem um jogo hoje. Quer ver seu príncipe marcar mil gols pra vc? Clube do Cruzeiro. Às 19h.”
          "Pai!" Grito e não tem ninguém em casa. Cadê todo mundo? Domingo à noite. Dezembro. Eu com meu vestidinho verão e várias partituras para organizar. Ah, meu amor primeiro, né? Não. Tenho que arrumar isso, se não meu pai não deixa eu sair nunca mais por 200 anos, quem sabe.
          Arrumo toda a bagunça que deixei na sala da noite de ontem. A Nicole e eu estávamos ensaiando mais uma vez a nossa apresentação de amanhã na escola. Fim de ano é loucura e colação é ainda pior... Ela é minha melhor amiga desde os 10 anos e é como uma irmã pra mim. Ela sonha em ser bailarina e eu não canso de apoia-la. Ela vai conseguir como eu também vou. Ser pianista profissional, se eu me dedicar mais, ou lecionar. As duas opções são muito boas e tenho mais um ano para decidir o que eu quero. Bato na porta do quarto do meu irmão. Nunca chamo ele de meio-irmão. Para mim, ou é irmão ou não é. Ele deve estar desenhando mais e mais. Sei que ele consegue uma federal, inclusive aqui, na UFMG. Ele passa facinho, é muito inteligente.
          Eu até que sou, mas nada comparado ao “Einstein” que existe dentro dele. Nós sempre vamos juntos para escola, desde os 11 anos, e as pessoas sempre nos chamava de namorados, tanto por chegar juntos na escola e por sermos da mesma turma. Ainda bem que o Eric sabia mesmo que somos irmãos. Até a Nicole, um dia disse: "Olha o meu casalzinho preferido chegando." E ela não estava se referindo a um simples casal de irmãos.
          Eu ignorava, porque não dá pra contrariar as pessoas e discutir, mas o Bê ficava todo vermelho. Ele é branquinho, então percebe-se com facilidade a mudança de cor no rosto dele. Vergonha de mim? Mentira descabida? Ou outra coisa? Não sei...
          "Bê, o papai foi aonde? Ele não atende o celular." Eu disse do lado de fora, ele ainda não tinha aberto a porta e nem iria abrir e deixar eu entrar. Quando eu tinha 5 anos, estava numa fase curiosa e queria entrar em qualquer canto. Cheguei dentro do quarto dele, que me xingou e doeu até na alma. Fiquei sem falar com ele por um bom tempo. Isso foi em maio, no mês do meu aniversário e só no Natal voltei a falar com ele naturalmente. E olha que eu só tinha 5 anos! E nem lembro nada do que vi naquele dia.
          "Clari, ele disse que foi no supermercado e não demora. Dormiu muito depois do almoço eim?" Ele respondeu, com a voz abafada pela parede, porta e tudo o mais.
          "Estava cansada. Vou no clube e volto mais tarde. Vou ver um jogo do Eric. Avisa o papai. Eu não demoro e ele me trás. Beijo." Eu disse e esperei um pouquinho. Sem resposta. Acho que ele escutou né?
          Sempre que eu falo do Eric ele se cala. É quase que automático. Como se fosse um membro involuntário do corpo dele. Desço pelo elevador e o táxi que chamei já está na porta. 18:45. E o sol de rachar desse horário de verão louco. Ainda bem que os táxis aqui na Savassi não demoram, não queria ficar na rua e no sol. O trajeto é rápido. Mas minha cabeça fica tonta assim que eu entro no veículo. Deve estar ansiosa pra amanhã.
          Tocar o Lago dos Cisnes e ainda ter uma dançarina. É muito pra mim. Antes de terminar meu pensamento, chego ao clube, pago o taxista e procuro Nic. Ela me vê na entrada e logo acena para eu ir me sentar ao seu lado. Antes de chegar na ala “L” onde ela está sentada, um braço me puxa pra trás para um beijo longo. Eric. Mas ele não devia estar no campo? Nada importa. Quando estou nos braços dele o mundo pode girar e desmoronar o que for. Não vou me abalar. "Eu te amo." Ele diz e sai correndo em disparada pelo vestiário. Cabelo liso, corpo perfeito. O que mais eu poderia desejar?           Meu namorado me ama! "Eu também te amo, meu amor. Boa sorte!" Eu consigo sibilar quando ele começa a correr de costas e a mandar beijinhos pra mim. Me viro e volto a caminhar em direção a minha amiga.
          "Que cena de cinema em Clari? Já pensou em mudar de área? Atuação parece um bom ramo."
          "Oi pra você também Nic. Ansiosa pra amanhã?"
          “Nem tanto. Sei que vou brilhar. Quer dizer... Nós vamos brilhar!" Não sei identificar o tom de ironia ou soberba em sua voz. A Nicole de uns tempos pra cá, passou a me olhar de um jeito estranho. E percebi que isso foi logo depois de eu começar a namorar. Ou seja, já tem um tempinho. Na verdade, a Nic mudou com a partida da Jennifer. As duas brigaram feio e a família da Jennifer acabou se mudando pra João Pessoa, há mais de 1000 km de distância daqui. Ela mudaria de qualquer jeito, mas a briga delas, que até hoje me parece estranha, nos afastou. A Jenn parou de conversar até comigo e olha que eu não tive nada a ver com isso. Não quis atrapalhar as coisas ainda mais e por isso não liguei até hoje. Isso foi há mais de dois anos. Inclusive, a Nic ameaçou se afastar de mim se eu tentasse qualquer contato com a Jennifer. Para não perder mais uma amiga eu fiquei na minha.
          O engraçado que essa foi a mesma época que a Jennifer terminou com o namorado e ele logo apareceu de braços dados com a Nic. Estranho. Os dois eram tão apaixonados e suportariam um namoro a distância. Dava qualquer coisa pra saber o que aconteceu, mas também não metia nenhum dedinho meu pra desenrolar essa história. 
          Bola rolando. Até que enfim. Meu camisa sete não erra um passe e sei que logo vai fazer um gol pra mim. Não gosto tanto de futebol, mas finjo prestar atenção. Não quero conversar com a Nicole agora, porque se ela começar eu vou falar e não vou parar. Eric faz um gol pra mim só no segundo tempo. Ele corre até a grade pra me dar um beijo e eu saio correndo do meu lugar para recebê-lo. Mesmo sendo tão rapidinho, ele sabe o que fazer para prender uma garota. Eu acordo do meu pequeno devaneio e volto a me sentar. A cara que a Nic faz é de desgosto. Eu não sou ingênua para perceber que ela a qualquer momento de deslize da minha parte, vai ficar com o meu namorado. Será que foi isso? Ela seduziu o Felipe, o namorado da Jenn? Ex das duas? Porque logo depois também, a Nicole largou ele... 
          Eu confio no meu taco. O Eric já deu a entender várias vezes que nunca quis e nem nunca vai querer ela. É impressionante o nível de inveja das pessoas. Ainda bem que Deus me agraciou e não sinto um ponto de inveja. Não cobiço nada de ninguém e nem pretendo fazer essa parte minha, obscura, crescer.


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